quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Aquarela

Tem gente que usa
o amarelo do desânimo,
o ocre da argila,
o branco da neve,
o vermelho da vergonha.

Agora eu,
para pintar a minha vida,
uso a aquarela dos meus amores.

Bulimia

Quero ter,
não importa o quê,
desde que seja novo.

E quero ter muito,
muito mais do que
o outro.

Mas o que tenho na verdade
já é coisa bem antiga.
É uma anedonia neurótica,
obra dessa cultura da bulimia:
como e como muito,
já pensando em vomitar.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Neva nos trópicos

O vento glacial congela a menina.
Será que não a verão?
O frio dos corações já toma muito tempo.
Será que não há verão?

O gélido olhar consome as relações
e tudo é um artifício do artificial;
não há abraço sincero
e tudo se quebrou com a corrente polar.

A indiferença domina os lábios.
Será que não a verão?
Congelaram nossas emoções.
Será que não há verão?

1 é dois, três

A palavra nasce
de sangrentas batalhas
entre vários sentimentos.

A mente é palco
para estranhos confrontos
de violentas idéias
e a enxaqueca é ressaca
dessas lutas que travamos.

Mas nenhuma idéia perde
nessa guerra interior.
O pensamento que aparece
carrega as marcas do que fica.

Por isso sou plural
e sei que a carícia mais doce
tem a vontade de destruir.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O anel que circunda a gaiola

Em que canto do armário masculino
jazem teus sonhos mais belos?
Fugiram assustados da tua alma
e acabaram com as traças.

Com a promessa da aliança,
te separasse da vida
e no momento do pedido
aceitasse a renúncia.

Provasse a luxúria do vestido,
exibisse a todos o caro véu.
Mas antes de subir o degrau
a canção já se fez triste.

O gris das cortinas te conformou
e o mundo acordou sem teu nácar.
Atiraram contra teus planos
e dormisse com o assassino.

Uma gaiola.

Brinquedo

o que fica de todas nossas conversas?
o que fica de nossos abraços?
e de nossos beijos?
nossos olhares?
cafunés?

o que fica de nós?

tenho pensado tanto
que não somos mais nada,
que nos tornamos brinquedos,
importantes no pouco tempo
que dura a novidade.

Ícaro

Se desejar é delirar,
enlouqueci contigo.

Minhas certezas se encolheram
diante do teu universo,
minhas convicções se tornaram
balbúcias infantis.

E foi como menino,
filho da tua leveza,
que voei por teus lábios.

E foi como menino,
inventor de fantasias,
que procurei a eternidade.

Curiosa inocência!
Mal sabia que a imensidão
é o esconderijo do desejo
e o terreno das chamas.

Curiosa inocência!
Acreditei ser a única mão,
ser nossa a brincadeira
de traçar desenhos nas nuvens.

Pensei ser a paixão
o ingresso para o sempre
e alcei vôos muito altos
para as frágeis asas de cera.

Transitei entre o tudo e o nada
e fui queimado pelos anseios.
Por querer demais, acabei jogado
no louco rio do real.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

La ley del deseo

Um olhar desconfiado
e um sorriso todo sádico.
É assim que o desejo
encontra um rosto
no apartamento pequeno.

Desejo que faz sua lei,
escravizando mente e corpo.

Os lábios que hesitavam
unem suas extremidades,
levando os dentes
a comprimir a carne.

Os sussurros tímidos
estouram como fogos
e chegam à rua
como urros de êxtase.

O porão da memória
também lamenta sua ação,
tendo nas úmidas paredes
o eterno retrato do sexo.

O desejo se espalha
e o apartamento se molda.

O quarto deixa de ser pequeno
porque as mordidas ficam,
as lembranças ficam,
e os gritos que dá o tesão
não só acordam o prédio
como despertam a cidade inteira.

Um homem fala no pomar

O capital é mesmo fantástico!
Antes só comíamos as mercadorias,
agora podemos ouvi-las
e até rebolar com elas.

O progresso diminuiu tudo.
O sentido da nossa vida
cabe agora em uma música
com monossílabos ritmados.

Gostosa! Delíííícia!
Tá no ponto, hein.

As mulheres são valorizadas
qual melancias em uma feira.

Contraditória é a sociedade
onde as prostitutas são presas
pelos mesmos policiais
que presenteiam os filhos
com o dvd de uma mulher-fruta.


Uma mulher.

domingo, 26 de outubro de 2008

Céu de Narciso

Os olhos inchados da menina
se fascinam com as nuvens
pela devoção a Narciso.

E preferem aquelas do oeste,
as que aparecem no laranja vermelho
como luto pelo fim do dia,
aquelas que melhor representam
a tragédia que ela vive.

São as nuvens pesadas que atraem,
porque o céu molhado é espelho.

A menina se encanta com o céu
porque reconhece nele
as lágrimas que derramou,
enxerga nos pingos de chuva
um pouco do seu amor.

A ideologia do corpo

Por vezes acredito
que o sentido é esse mesmo:
os afeitos às palavras
não têm o prazer do toque.

Me incomoda
essa propriedade da beleza
de ser propriedade
dos brutos.

E por vezes penso
que enquanto
o sensível for fraqueza
nunca seremos fortes
e viveremos séculos perdidos
na ideologia do corpo.

Fim é começo

São bem mais que cansaço
os olhos pequenos
do fim de festa.

São o desenho da frustração,
o sinal de que essa
se juntou ao grupo
das noites de sábado.

A contração das pupilas
é a força da memória
apagando espectros,
deletando resíduos
dos beijos voláteis.

A decepção por não ter encontrado
e a culpa ter procurado
em tantos corpos
o sabor dos lábios dele.

Esses olhos pequenos
são o recado das pálpebras:
pega o caminho de casa,
deita, dorme e sonha,
sonha com teu amado.

É hora

Sabe,
chega uma hora
que você quer viver,

quebrar as vitrines desse shopping
que dizem ser o mundo
e me mostram o cruel
com a carapaça de sensacional,

rasgar esse roteiro mecenas
do perverso espetáculo do lucro,
desligar o manicômio televisivo
que me aprisiona no mais do mesmo,

queimar essa escola-prisão
para poder me educar,
jogar fora esse terço
para ser homem por inteiro,

viver acelerando a história
para depois parar e sentar,
lutar pelo direito roubado
de namorar despreocupado
em um banco da Tamandaré.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A memória da persistência

Já são dez horas
mas dez horas pra quem?
São só dez horas
já foi, não é, não vai ser também

O sentido horário do relógio
não faz sentido algum
Se os ponteiros girassem pr'outro lado
tudo ficaria igual

O que marca o nosso tempo
não é o toque do metal
O que marca o nosso tempo
é a e x p r e s s ã o d e n o s s a s f a c e s
e as faces de nossas expressões



Persistência da memória, Dalí.

A essência fala no/do Rio Grande

Me inquieta essa leveza da cidade
agindo como uma cortesã
que recorre à maquiagem.

São flores e arbustos
tornados propriedades
de uma estética vazia,
uma beleza miserável.

Só não privatizaram a mim
porque me escondo
no invisível do paisagismo
e daí corro para a mente
de quem se deixa pensar.

Sou a essência,
e desfruto a liberdade
de habitar tua consciência
como capacidade de mudança.

Feli Fuga Cidade

Felicidade o que é?
É o bem da alma.

E não me sinto bem
porque te tenho,
não estou bem
porque estás comigo.

Feliz pude ficar
porque consegui te ter.

Felicidade é o conveniente namoro
do orgulho com a vaidade,
deflagrado com a aquisição,
com o sucesso fugaz da busca.

É voltar de uma caçada
com a imponência de ser predador.

Frida

As mulheres?
Elas nunca deixam
de ser meninas,
só trocam seus amigos.

Na infância,
andam abraçadas
às suas bonecas
e correm despreocupadas,
exalando alegria e pureza.

Depois,
crescem os seios,
expulsando o doce do peito,
tomando o lugar da inocência,
dos sorrisos e brincadeiras.

A insegurança vem feroz
e as bonecas já estão longe.
O desespero faz seu trabalho:
as meninas liberam seus corpos
para desfilarem presunçosos
à procura de alguém
que afugente a solidão
e recrie o sabor da infância.

Ali terá ação

Cidadão coça cabeça:
-Como comerei?

Cabeça canalha calcula:
-Comerás comida.

Cidadão comenta:
-Comida custa caro...

Cidadão cultiva caju,
capitalista come caju.

Cabeça cansada cantarola:
-Caro cidadão! Caro, cidadão?

Cidadão capta código:
-Claro! Comida crio,
comida comerei.

Mundo cela

Feliz em seu cárcere,
decora as paredes de sua cela
e agradece aos céus
pela presença das gotas de sol
que cozinham sua cabeça.

Sem ver as algemas,
acredita ser dono da liberdade
e, numa triste alegria,
transforma toda sua vida
em um eterno carnaval.

E aquele que se diz diferente
esconde sua identidade,
disfarçando assim sua origem,
e esbraveja quando
é chamado de humano.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Antropofagia

A refeição não acaba
com o sair da mesa.
Há na rua um sorriso
e quero um pedaço.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Miséria pós-moderna

Andam dizendo por aí
que a verdade já não existe,
as classes foram superadas,
e a relatividade é hoje
a nossa única certeza.

Tenho defendido tudo isso
e ensinado pelas ruas.

O povo me recebe bem
e parece já ter aprendido algo.
Ainda ontem na praça
um homem disse não ser pobre
antes de me pedir um pão.

Davi vende doces

Luís e seus amigos
saíram da Igreja e
espancaram o menino
que vende doces.

"Bixa!"
foi o pontapé
mais brando.

Na outra noite,
as mãos jovens
ainda seguravam
a mesma bandeija.

Dessa vez o menino
não tinha por que temer.
Luís estava com a namorada
e a moça adora brigadeiro.

A força e o dinheiro
compram doces, companhia,
segurança e aplausos,
mas nunca comprarão
o sorriso com o qual
o menino se vingou
do patético playboy.

Guido

Nunca piscou, gemeu, transou, correu, gritou, sorriu, agiu,
mordeu, brigou, chorou, brincou, pensou, cantou, pediu,
defendeu, discutiu, acusou, abraçou, imaginou, sonhou.

Não amou de verdade;
não teve uma vez sequer
em seu rosto maquiado
cabelos que não os seus.

Mas foi à escola.
O Professor passou um filme;
ela pesquisou cinema, benigni, fascismo, mussolini, nazismo,
campos de concentração, hitler, alemães, judeus e italianos,
mas não pôde entender por que
a vida é bela.


A vida é bela, Roberto Benigni, 1997.

domingo, 19 de outubro de 2008

25 de março

Cai uma cabeça,
a dela/minha/nossa.
Minha nossa!

Os óculos rastrearam
o amante com outra.
A sacada ficou pequena
para tanto ciúme.

A raiva transbordou,
ganhando vida e cor
no vermelho que manchou
óculos, asfalto
e as horríveis camisas
dos felizes contrabandistas.

Vidaquarela

Que doença nomeia
essa estranha normalidade?
Que doença nomeia
o cinza da sanidade?

O ordinário repousa passivo
na poltrona da harmonia
enxergando como céu
a janela do seu quarto.

Sábio o que quebra o comum
e encontra no diferente
o colorido da vida.

Não mais

Não respondo mais
à provocação do teu corpo.
Já não molho meu rosto
no teu mar de desejo.

Tuas coxas carnudas
já não ganham meu querer,
tuas panturrilhas torneadas
não me compram mais.

Te afasta, mulher,
teus peitos me enojam!
A dança dos teus quadris
é uma náusea que evito.

Se procurares hoje
o recreio do meu corpo,
ensurdecerás com o grito
de me deixa sonhar!

sábado, 18 de outubro de 2008

Sartrélite

Quão bela é a lua
­­­que esquece de ir embora
e, com o raiar do dia,
ainda permanece no céu.

Tem a beleza do engano,
da lâmpada que no claro
continua a brilhar
sem a preocupação de ser vista.

Só é bonita
porque não se quer assim.
Desperta o olhar
por não pretender fazê-lo.

Quanto lirismo há nesse globo
perfeito por seus descuidos!

Bela é a lua
da qual te falo
e não fazes idéia
do quanto te pareces com ela.

Los Olvidados

Os pais esquecem seus filhos,
que matam seus amigos,
violentam mulheres,
agridem paralíticos
e espancam velhos cegos
sem saber que
velhos ficarão
e cegos já estão.

Mescalina escarlate

Parece mescalina,
mas é só paixão.

Fez o homem dedicar
doces canções mortais
a uma bela cortesã
e removeu com o suor
do corpo em chamas
o batom barato
para escrever "maravilhoso"
nos lábios dos amantes.

Paixão que o tornou ladrão
roubando pedaços do tempo
para tecer o seu sempre.
Que colocou no sorriso do outro
uma parte do escritor
e fechou seus olhos,
para que enxergasse o infinito
e tropeçasse no agora.

Mas a droga escarlate
não ensinou que os mortos
também fecham seus olhos
e o pobre escritor
foi procurar no copo d'álcool
o veneno de Romeu
e só encontrou o reflexo
de um tuberculoso morrendo.

Nova Petrópolis

O casal que dobra a esquina
vê seus grossos casacos
serem encharcados pelas lágrimas
que brotam de seus olhos.

Todos dizem conhecer o motivo
e culpam a noite de inverno.
Acreditam ser o vento frio
a razão pela qual choram.

Eles não sabem,
mas as lágrimas só caem
porque na virada da esquina
um novo horizonte se desdobra,
a alma teme a perda e já sofre
de saudade antecipada.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Elogio da inveja

Vejo um casal preso à árvore
pelos beijos molhados
de lábios a jurar e selar
promessas de uma vida inteira.

Queria eu me deleitar
nesse doce suco da vaidade;
me lambuzar
no gozo da ilusão.

Digo que a inveja
é a mãe da paixão,
porque é dela esse pé
que me empurra a procurar
uma árvore, um beijo, uma promessa.

Julho

Será o inverno
que resseca os lábios
ou a falta de outros
para molhá-los?

Será o inverno
que traz os cobertores
ou a falta de corpos
que aqueçam?

O inverno podia ser quente
não fosse a frieza humana.

Chuva

Gosto da chuva,
do concerto dos seus pingos
na superfície da minha pele.

Gosto da chuva,
do conserto que seus pingos
praticam na minha alma.

Gosto dos meus pêlos molhados
pelo frescor que os liberta.
Gosto das poças formadas
desafiando a passagem.

Do jeito que ela nos mostra
que o mar nunca é o mesmo.

Gosto dos pingos de chuva
porque em tempos de solidão
é o unico toque que recebo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Hollywood

Não vives a tristeza
de ser filme-comum?

És forma sem conteúdo,
e o teu caminhar
o vazio desfile
de figuras animadas.

És pura embalagem,
e quando chegas
todos já sabem
que o cálice de ouro
guarda vinho barato.

És puro passatempo
para os insensíveis,
e aqueles que de ti gostam
o fazem de modo tão superficial
quanto o teu agir.
" A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar."
Paulo Freire



É dessa sinfonia que vos falo, amigos.
Maio de 68, França.

Comicídio eleitoral

Ainda ontem fui engolido
por um comício eleitoral.

Um rinoceronte bradava jingles
enquanto vomitava foguetes
e atraía fiéis zumbis
a sair de suas casas.

Eram estupradores foragidos,
fantasiados de cantigas inocentes,
estrangulando a inteligência
e assediando meu pensar.

Fugi, chorei, corri,
acho até que voei!

Pouco depois já me confundia
nos ares com um balão
que, também cansado do tolo,
fugiu da mão do menino.

Um banho de Dalí

São gotas de âmbar
que percorrem teus cabelos
e deslizam maliciosas
como os relógios de Dalí.

São gotas de mistério
que escorrem pelos fios
e encontram minha mente
em um transe especial.

São gotas de pecado
que pulam alegres
carregando doces convites
para uma divina comédia.

São gotas de ácido
que cruzam o plasma
e fazem do mundo tela
para um quadro surreal.

É apenas o fantástico
suplicando à água
proximidade do teu corpo.


Galarina das esferas, Salvador Dalí.

Vice-versa

Poesia é sexo.

Derramo as palavras no verso
como me espalhas pela cama.

Repito no alvo do papel
o assédio dos teus lábios rubros.

Saboreio cada palavra
como mastigo tua libido.

Rasgo a fibra do ofício
como estraçalho tua carne.

Livro os vocábulos da gaiola
como tiro tua roupa.

Minha mão é para a coerência
o que é teu grito para o silêncio.

Sexo é poesia.

Bilhete

Guardo um bilhete
há cinco anos.

Ele guarda o erotismo
dos teus cumprimentos tímidos;
a poesia bêbada
das nossas longas conversas.

Guarda a mímica
de tuas loucas brincadeiras;
o meu beijo
que não sabe ser o último.

O verso que não te dei
tem guardado os dias e noites
que se tornaram espera,
e quando hoje o seguro,
tenho em mãos um livro:
os compêndios da saudade.
“É preciso não somente que cesse a exploração do homem pelo homem, mas que cesse a exploração do homem pelo pretenso 'Deus', de absurda e provocante memória. É preciso que seja inteiramente revisado o problema das relações do homem e da mulher. É preciso que o homem passe, com armas e bagagem, para o lado do homem. Basta de flores sobre os túmulos, basta de instrução cívica entre duas aulas de ginástica, basta de tolerância, basta de engolir sapos!"

André Breton


Na obra La Trahison des images, de René Magritte, as palavras "Isto não é um cachimbo".

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Éden

Se eu morrer agora,
na boa volúpia do teu corpo,
não quero doces canhões
nem selvagens orações.

Me interessa ainda menos
a promessa de pompas celestiais.

Se eu morrer agora,
me cubram com essa camisola
que carrega teu cheiro,
porque o éden é pra mim
a morada dos teus seios.

Garçom, sirva pela direita

Cego é aquele que não vê
além do que se expõe;
o que não empresta aos olhos
o poder do reflexo.

É vida sem sentido
a do homem que usa o seu
para contemplar o cruel.

Graças a Deus,
aqui nem todos são cegos.
As parábolas são reais
e a mão do Senhor
iluminou alguns amigos.

Hoje eles são nossos profetas,
e escrevem a verdade revelada
nos gráficos de suas empresas.

É certo que enxergam além,
tanto que ao ver na ponta da faca
o corpo cansado do outro
trucidam o cozido com tanta etiqueta
que o trabalhador até agradece
por ser devorado com tamanha nobreza.